POR QUE A SIMPLICIDADE NÃO SATISFAZ?

Filed under: by: Marco Boeing

Depois de alguns anos militando na umbanda, comecei a desenvolver um senso critico no diz respeito a minha religião.

Passei a observar as mudanças, as evoluções, os retrocessos, o comportamento, enfim tudo que se refere ao dia a dia da Umbanda.

Uma coisa tem me incomodado muito; a falta de simplicidade que tenho observado nos terreiros. Quando iniciei na Umbanda, pés no chão, uma roupa branca, algumas velas brancas no altar e o terreiro estava pronto para funcionar, as entidades sempre presentes, os consulentes atendidos, os médiuns felizes por estarem ali, enfim uma atmosfera propícia para pratica do bem.

Não existiam cursos como, por exemplo, formação de “sacerdotes” em dois anos, nosso aprendizado era dentro do terreiro, ouvindo o dirigente, as entidades, os mais experientes.
Muitos vão dizer que a evolução é importante e faz parte da vida, concordo, mas penso que deva ser uma evolução inteligente, coerente.

Infelizmente tenho visto muitos que inventam rituais, fundamentos praticas, muitas beirando o absurdo, outros vão buscar em outras religiões, praticas que nada tem haver com a Umbanda, em nome de uma pretensa evolução.

Vejo a subserviência, a idolatria à pessoa do “pai de santo” muito grande, vejo que em muitos casos a espiritualidade fica em segundo plano, hoje Orixá virou sobrenome e até propriedade pessoal, terreiros viraram desfile de moda ou concurso de fantasias.

Aprendi que quando se vai a outro terreiro devemos saber entrar e sair, minha Mão de Santo, nos ensinou que quando visitamos outra casa, salvo se somos convidados pelo chefe do terreiro, somos assistência, e nosso lugar é “na fila do passe” como ela dizia. O que ocorre hoje é bem diferente, “pais de santo” que se acham no direito de exigir que se dobrem atabaques para ele, que se prestem reverencias, e muitas vezes ainda saem reparando, criticando ou caçoando do trabalho, e por que tudo isto? Justamente pelo fato de que a espiritualidade para eles é apenas um detalhe.

Não sei onde isto vai acabar, espero que acabe antes que a Umbanda acabe...

Amigos longe de mim querer generalizar ou ser o dono da verdade, como disse no inicio, sou apenas um observador do comportamento umbandista.

Ainda bem que temos terreiros que ainda mantêm a essência da Umbanda, onde a palavra de um Preto Velho ou de um Caboclo é ouvida e seguida. Onde o dirigente senta com seus filhos, ouve, explica, não tem vergonha de dizer “não sei, mas vou tentar aprender”.

Este texto nada mais é que um desabafo de um saudosista, que pisou muito em terreiro de chão batido, que limpou muito cinzeiro, que já caiu varias vezes de “bunda” no chão durante o desenvolvimento, que já levou muito “pito” de entidades, que teimou muitas vezes, mas que aprendeu a amar com todas as forças a Umbanda, e que depois de todo este tempo vivenciando a Umbanda tem uma pergunta aos Umbandistas:

POR QUE A SIMPLICIDADE NÃO SATISFAZ ?

3 comentários:

On 27 de janeiro de 2010 às 07:29 , Andréa Deren Destefani disse...

Sabe Marco eu noto que as pessoas não prestam atenção ,na Umbanda, em nada do que deveriam e ainda querem colocar seus conhecimentos laicos dentro dela. Falo de conhecimentos laicos as coisas de nosso dia-a-dia de nossas profissões e a Umbanda é uma religião fundamentada pelos espiritos e para espiritos, não tem nada a ver com a razão material.
Pai Fernando sempre fala que respeito é essencial. Acredito que não nos respeitamos na medida em que nos achamos invencíveis ou fracassados como médiuns. Somos e sempre seremos eternos estudantes deste mundo multicolorido que as entidades nos apresentam. Um mundo simples, mas complexo para nossas mentes tão sem os fundamentos básicos de civilidade. Quem é que tem coragem de jogar fora seus pré conceitos e aceitar a verdade que nos é mostrada? Entidade nenhuma nos impõe a verdade da caridade, do amor e da fraternidade, antes temos que descobri-las por nós mesmos. Poucos são os que se dignam a entrar com olhos humildes numa gira e buscar captar pra aprender.
Vivemos num admirável mundo novo já dizia Shakespeare, que ficaria estupefato com nossas novas tecnologias. Nos demos o poder de julgar e proferir nossas sentenças contra tudo e contra todos e nos esquecemos infinitas vezes de apenas estender a mão, abrir os ouvidos e fechar a boca.
Desculpe o desabafo desta filha de Yansã , mas acredito que seu texto seja muito apropriado para o momento.Axé para todos

 
On 27 de janeiro de 2010 às 11:08 , Marcelo disse...

Muito bom e verdadeiro...
Por isso já foi falado que nestes tempos poucas entidades de mais luz apareceriam nos terreiros (ou se manifestariam nesta dimensão). Porque seria isso? Acho que esse texto já nos dá uma pista. Para as entidades mais elevadas se manifestarem e executarem qualquer trabalho, as pessoas tem de direcionar-se com esta sintonia. Mentalmente. Será que isto anda acontecendo? Ou vivemos cada vez mais num mundo materialista e apego às ilusões?
Abço Marcos e parabéns pela lucidez...
Marcelo

 
On 29 de janeiro de 2010 às 06:00 , Editor disse...

Salve Pai Marco,
Peço Agô para pegar carona em seu desabafo, e expressar também um nózinho que sempre se faz presente em minha garganta.
Também aprendi, pratico e tento ensinar, uma Umbanda pé no chão. Uma Umbanda sem "Mistérios" e sem "Grandes Reveladores dos Mistérios". Uma Umbanda guiada pelas palavras dos Preto-velhos, Caboclos, Exus, etc. Aprendi Umbanda batendo a cabeça no Congá e o joelho no chão do terreiro. Aprendi Umbanda limpando "cuspidô" e desentupindo cachimbo de Preto-Velho. Aprendi Umbanda com meu Pai de Santo e com os erros e acertos meus e dos meus irmãos.
Quanto você pagou para desenvolver sua mediunidade? Pergunta estranha né? Mas cada vez mais corriqueira entre os novatos.
Na Umbanda que aprendi, pratico e tento ensinar para meus filhos, não existem "Mestres". Caboclo é Pai, Cabocla é Mãe. Ogum é Pai. Preta-Velha é Vó. E assim por diante. O sapato, por melhor que seja, sempre fica do lado de fora da corrente.
Grande abraço Marco, e obrigado pela reflexão.